quarta-feira, janeiro 09, 2013

Da relação direta entre ter de limpar seu banheiro você mesmo e poder abrir sem medo um Mac Book no ônibus

tirei daqui.

Vale a pena ler (apesar de saber que vcs nao vao ler).

  UPDATE: Muita gente tem lido este post como uma idealização da Holanda como um lugar paradisíaco. Nada mais longe da verdade. A Holanda não é nenhum paraíso e tem diversos problemas, muitos dos quais eu sinto na pele diariamente. O que pretendo fazer aqui é dizer duas coisas: a origem da violência no Brasil é a desigualdade social e 2, apesar da violência que gera, muita gente gosta dessa desigualdade e fica infeliz quando ela diminui, porque dela se beneficia e não enxerga a ligação desigualdade-violência. Por fim: esse post não é sobre a Holanda. A Holanda estar aqui é casual. Esse post é sobre o Brasil, minha pátria mãe.


A sociedade holandesa tem dois pilares muito claros: liberdade de expressão e igualdade. Claro, quando a teoria entra em prática, vários problemas acontecem, e há censura, e há desigualdade, em alguma medida, mas esses ideais servem como norte na bússola social holandesa.
Um porteiro aqui na Holanda não se acha inferior a um gerente. Um instalador de cortinas tem tanto valor quanto um professor doutor. Todos trabalham, levam suas vidas, e uma profissão é tão digna quanto outra. Fora do expediente, nada impede de sentarem-se todos no mesmo bar e tomarem suas Heinekens juntos. Ninguém olha pra baixo e ninguém olha por cima. A profissão não define o valor da pessoa – trabalho honesto e duro é trabalho honesto e duro, seja cavando fossas na rua, seja digitando numa planilha em um escritório com ar condicionado. Um precisa do outro e todos dependem de todos. Claro que profissões mais especializadas pagam mais. A questão não é essa. A questão é “você ganhar mais porque tem uma profissão especializada não te torna melhor que ninguém”.
Profissões especializadas pagam mais, mas não muito mais. Igualdade social significa menor distância social: todos se encontram no meio. Não há muito baixo, mas também não há muito alto. Um lixeiro não ganha muito menos do que um analista de sistemas. O salário mínimo é de 1300 euros/mês. Um bom salário de profissão especializada, é uns 3500, 4000 euros/mês. E ganhar mais do que alguém não torna o alguém teu subalterno: o porteiro não toma ordens de você só porque você é gerente de RH. Aliás, ordens são muito mal vistas. Chegar dando ordens abreviará seu comando. Todos ali estão em um time, do qual você faz parte tanto quanto os outros (mesmo que seu trabalho dentro do time seja de tomar decisões).
Esses conceitos são basicamente inversos aos conceitos da sociedade brasileira, fundada na profunda desigualdade. Entre brasileiros que aqui vêm para trabalhar e morar é comum – há exceções -  estranharem serem olhados no nível dos olhos por todos – chefe não te olha de cima, o garçom não te olha de baixo. Quando dão ordens ou ignoram socialmente quem tem profissão menos especializadas do que a sua, ficam confusos ao encontrar de volta hostilidade em vez de subserviência. Ficam ainda mais confusos quando o chefe não dá ordens – o que fazer, agora?
Os salários pagos para profissão especializada no Brasil conseguem tranquilamente contratar ao menos uma faxineira diarista, quando não uma empregada full time. Os salários pagos à mesma profissão aqui não são suficientes pra esse luxo, e é preciso limpar o banheiro sem ajuda – e mesmo que pague (bem mais do que pagaria no Brasil a) um ajudante, ele não ficará o dia todo a te seguir limpando cada poerinha sua, servindo cafézinho. Eles vêm, dão uma ajeitada e vão-se a cuidar de suas vidas fora do trabalho, tanto quanto você. De repente, a ficha do que realmente significa igualdade cai: todos se encontram no meio, e pra quem estava no Brasil na parte de cima, encontrar-se no meio quer dizer descer de um pedestal que julgavam direito inquestionável (seja porque “estudaram mais” ou “meu pai trabalhou duro e saiu do nada” ou qualquer outra justificativa pra desigualdade).
Porém, a igualdade social holandesa tem um outro efeito que é muito atraente pra quem vem da sociedade profundamente desigual do Brasil: a relativa segurança. É inquestionável que a sociedade holandesa é menos violenta do que a brasileira. Claro que aqui há violência – pessoas são assassinadas, há roubos. Estou fazendo uma comparação, e menos violenta não quer dizer “não violenta”.
O curioso é que aqueles brasileiros que queixam-se amargamente de limpar o próprio banheiro, elogiam incansavelmente a possibilidade de andar à noite sem medo pelas ruas, sem enxergar a relação entre as duas coisas. Violência social não é fruto de pobreza. Violência social é fruto de desigualdade social. A sociedade holandesa é relativamente pacífica não porque é rica, não porque é “primeiro mundo”, não porque os holandeses tenham alguma superioridade moral, cultural ou genética sobre os brasileiros, mas porque a sociedade deles tem pouca desigualdade. Há uma relação direta entre a classe média holandesa limpar seu próprio banheiro e poder abrir um Mac Book de 1400 euros no ônibus sem medo.
Eu, pessoalmente, acho excelente os dois efeitos. Primeiro porque acredito firmemente que a profissão de alguém não têm qualquer relação com o valor pessoal. O fato de ter “estudado mais”, ter doutorado, ou gerenciar uma equipe não te torna pessoalmente melhor que ninguém, sinto muito. Não enxergo a superioridade moral de um trabalho honesto sobre outro, não importa qual seja. Por trabalho honesto não quero dizer “dentro da lei” -  não considero honesto matar, roubar, espalhar veneno, explorar ingenuidade alheia, espalhar ódio e mentira, não me importa se seja legalizado ou não. O quanto você estudou pode te dar direito a um salário maior – mas não te torna superior a quem não tenha estudado (por opção, ou por falta dela). Quem seu pai é ou foi não quer dizer nada sobre quem você é. E nada, meu amigo, nada te dá o direito de ser cuzão. Um doutor que é arrogante e desonesto tem menos valor do que qualquer garçom que trata direito as pessoas e não trapaceia ninguém. Profissão não tem relação com valor pessoal.
Não gosto mais do que qualquer um de limpar banheiro. Ninguém gosta – nem as faxineiras no Brasil, obviamente. Também não gosto de ir ao médico fazer exames. Mas é parte da vida, e um preço que pago pela saúde. Limpar o banheiro é um preço a pagar pela saúde social. E um preço que acho bastante barato, na verdade.
PS. Ultimamente vem surgindo na sociedade holandesa um certo tipo particular de desigualdade, e esse crescimento de desigualdade tem sido acompanhado, previsivelmente, de um aumento respectivo e equivalente de violência social. A questão dos imigrantes islâmicos e seus descendentes é complexa, e ainda estou estudando sobre o assunto.

18 comentários:

Anônimo disse...

o Pouco que li não mostrou nenhuma novidade. Brasil é Brasil. Enquanto a política deitar e rolar vai ser assim pra sempre.

Lucin disse...

Termine de ler então senhor Anônimo e você vai ver que a questão é social e não política.
A única pessoa que pode mudar isso é você.

Marina disse...

Devíamos colocar senha nessa merda...

Anônimo disse...

Deb… This numbers I personally discovered just lately were a tad different… (can’t recall the place We found these individuals.
)
Feel free to surf my web page : Home Remedies For Genital Warts

Rafael M disse...

Recomendo o blog do autor do texto. Eventualmente ele solta textos como esse que dão uma perspectiva muito boa e as escritas dele, no geral, são muito interessantes.

Na maior parte são dicas MUITO úteis de viagens, principalmente em Amsterdam e também tem textos bastante divertidos. Li o blog todo desse cara antes de viajar e já tinha recomendado, só a título curiosidade a mais tempo.

http://www.ducsamsterdam.net/

Maia disse...

Texto bacana, e concordo em parte com o anônimo aí em cima.

Desde que o Brasil era colônia (tenho minhas dúvidas se ainda não é) que a desigualdade social impera.

Mudamos de regime político e mesmo assim não fomos capazes de mudar nossa mentalidade sobre hierarquia/preconceito/superioridade/etc etc etc.

Rudah, uma coisa que acredito ser papel dos políticos é tentar acabar com desigualdades sociais, já que eles "representam" o povo. E olha só, se perguntar pra maioria da população se eles querem acabar com a desigualdade social a resposta será afirmativa. Eles mesmo fazem algo a respeito? Não! Quem os representa tampouco o fazem.

Sim, é um problema social, mas o principal jeito de mudar, ao meu ver é através da política. E tem que começar por acabar com interesses particulares e partir para o público. Ir contra uma idéia boa somente pq não foi vc ou seu partido que deu é no mínimo imoral. "Politicar" em seu nome ou dos seus é crime, mas infelizmente quem fazem as leis são os mesmos que causam, ao meu ver a desordem social.

Maia disse...

olha só o que fala no wikipedia sobre o leo "coxinha" burgues.

"Léo Burgues ficou conhecido por promover festas noturnas em Belo Horizonte. É um ladrão safado que deveria ser exonerado!"

haHAHahHAHahHAHhaHAHhahHAHahHAHahHAHaAHhahHAhahHAHahHAHahHAh

http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%A9o_Burgu%C3%AAs

Maia disse...

aposto que foi o ivo que colocou isso lá!

ahHAHahHAHahHAHahHAHAHhaKAHhaHAHhaHA

ivo disse...

eu sou a favor da exoneração do Leo Coxinha da Madastra Burgues. Mas não escrevi aquilo, infelizmente.

Marina disse...

se o salário mínimo no brasil fosse R$ 3458,00, nenhum empresário teria condições de ter um empregado formalmente...

talvez sem a conversão da moeda (salário de 1300 reais), já não tivesse...

não imaginem uma grande empresa, mas uma pequena e/ou média... padaria, papelaria, pet shop, lanchonete...

não sei qual a "solução pro brasil"... mas o texto foi interessante e, no mínimo, já provocou uma reflexão...!

Maia disse...

Marina falou tudo! Você tem condições de pagar um salário de 700 pratas mais encargos para alguns funcionários de sua empresa, imagina ter que pagar o dobro ou o triplo disso!!! Fica muito dificil.

Piu, sobre "Além da demagogia de que é por que tudo vai para o bolso de políticos corruptos e empresários inescrupulosos...", não é verdade que TUDO vai pro bolso de políticos, mas o "pouco" que vai poderia dar um grande salto na melhoria das condições de vida da maioria dos brasileiros.

Veja que só com o bolsa família e outras bolsas foi suficiente para melhorar as condições de uma parte da população. Imagina se o que é desviado de verba (e isso inclui os empresários inescrupulosos que participam de esquemas de corrupção com os políticos) fosse investido em educação!? As coisas iam começar a mudar e garanto que em uma ou duas gerações o Brasil seria uma das grandes potências do mundo.

Educação vai melhorar a renda a médio/longo prazo, a violência (acredito eu) vai diminuir, saúde melhora, e a sociedade vai ter a tão aguardada IGUALDADE (talvez o correto seja equivalência ou equiparação).

Maaaaaaaasssssssssssss tudo começa pelos nossos queridos e tão amados representates nas casas legislativas e administração pública. Parem de levar o serviço de vcs como se fosse a favor DE VOCÊS e passem a ver como sendo a favor do povão. Vai ficar bão se isso acontecer.

Maia disse...

olha o que achei num site:

"
Qual é a estimativa de quanto o Brasil perde com o desvio de verbas públicas com a corrupção?

Resposta:

O Brasil perde em torno de 60 bilhões ano, no mínimo, pelos cálculos de Antoninho Marmo Trevisan um dos Conselheiros da AMARRIBO e Presidente da Trevisan Consultores Associados. O cálculo é simples. Se o Orçamento da União é de 300 bilhões e estima-se pela experiência, que 25% pode estar comprometido com a corrupção. Considerando para a União um desfalque conservador de 5 a 10% do Orçamento Nacional, isso nos remete para o valor acima de 60 bilhões. Em 15 anos zeraríamos a Conta da Previdência, somente estancando a Corrupção no País!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Não é para se indignar?"

Não sou eu quem fala isso, e até acho um pouco de exagero, mas mesmo se fosse metade disso que o especialista ai diz já seria um belo valor a ser investido todo ano.

http://www.redecontrolesocial.emrede.org/qual-e-estimativa-de-quanto-o-brasil-perde-com-o-desvio-de-verbas-publicas-com-corrupcao

Que os políticos ganhem 50 mil por mês, desde que façam seu serviço ética e honestamente, e com eficácia.

Se as coisas começarem a ficar equiparadas talvez o empresário aceite receber um pouco menos no início e pagar mais aos funcionários para que depois a produtividade aumente e seu lucro volte a ser o mesmo. Quem sabe?

Maia disse...

Mas para termos condições de fazermos o que você disse, inovar e construirmos algo fruto do nosso proprio trabalho honesto, precisamos de educação! EDUCAÇÃO velho! Tudo gira em torno da não ignorância das pessoas para certos assuntos (política por exemplo). Com educação o camarada consegue visualizar seu futuro, consegue dizer não para seu chefe e começar seu próprio negócio.

Como teremos educação no Brasil?! Quando os políticos (sim, tudo tem que passar por eles) pararem de roubar e sobrar grana pra melhorar as escolas, valorizar os professores (deveriam ganhar o que ganha um médico!), incentivar o aprendizado de docentes e dicentes.

Com isso, o camarada consegue enxergar além do simples "ganhar o pão de cada dia". E pode ter certeza que na cabeça dele tá borbulhando de idéias e críticas para melhorar não só a vida dele, mas das pessoas ao seu redor.

Educação! Não adianta querer pensar lá na frente. Temos que começar com o básico. Esquece esse lance de que melhorar as coisas AGORA. Tudo será consequência de uma boa administração e uso racional do dinheiro e da máquina pública.

Talvez falte educação para nossos amigos políticos.

Maia disse...

E eu voto também em qualquer um do buraco, desde que eu vire acessor. hehe

ivo disse...

se for do Buraco, e preto, eu não voto não.

Além da corrupção, galera, ainda temos isso aqui: http://www.impostometro.com.br/

Osso, osso, osso...

ivo disse...

desde que postei isso, já pagamos mais 13 bilhões de reais em impostos! uhuuuuuuuuuuu

Lucin disse...

vcs escrevem pra caraleo ein!? Tão sem o que fazer aí?

Eu acho que a discussão desviou do assunto original do texto.

Claro que a corrupção e a ineficiência da maquina pública são pedras gigante no caminho do país. Mas, acho que vocês talvez não tenham percebido (ao menos como eu percebi) o ponto principal do texto do cara: a desigualdade social no âmbito social mesmo.

Um ponto que precede a discussão de quanto deve ser o salário mínimo é qual a importância de cada um na sociedade. Acredito que a nossa (como sociedade) maior falha apontada pelo texto é achar que um doutor é melhor ou mais importante que um porteiro. E este ponto é unicamente social e só pode ser mudado por nós mesmos. Enquanto essa percepção não mudar a desigualdade não acaba.

Marina disse...

ah eu cansei de escrever....
vamos discutir bebendo cerveja...!